Carlos Eduardo Pereira: ‘na criação de uma narrativa ficcional, às vezes a gente se esquece de que o narrador é personagem’

O entrevistado dessa semana no especial do Le Monde Diplomatique em comemoração ao Dia Nacional do Escritor (25 de julho) é o carioca Carlos Eduardo Pereira, autor dos romances “Enquanto os dentes” (2017) – livro finalista do Prêmio São Paulo de Literatura – e “Agora agora” (2022), ambos publicados pela Todavia.

Com linguagem cortante, longe de rodeios ou meias-palavras, o autor discute temas sociais e apresenta personagens assombrados por traumas e violências cotidianas. Não por acaso, quando questionado sobre o que move sua escrita responde: “os grilos que me enchem a cabeça e que procuro exorcizar jogando tudo para uma tela de computador.”

Ao longo da entrevista, Carlos Eduardo Pereira ainda falou sobre seus dois livros, sua preocupação com a construção de narradores, as violências recorrentes em ambientes militares, o atual cenário literário brasileiro, entre outros temas.

Cidinha da Silva: “a minha poética bebe das águas das ancestralidades, orixalidades e africanidades”

Em 25 de julho, é comemorado o Dia Nacional do Escritor, data escolhida por conta da realização do 1º Festival do Escritor Brasileiro, promovido pela União Brasileira de Escritores (UBE), em 1960.

Para marcar a data e fomentar o debate em torno do atual cenário literário nacional, o Le Monde Diplomatique Brasil traz, ao longo de todo o mês, uma série de entrevistas com grandes nomes da literatura brasileira contemporânea.

A primeira entrevistada é a mineira Cidinha da Silva, vencedora do Prêmio da Biblioteca Nacional e autora de obras traduzidas para idiomas como o alemão, catalão, espanhol, francês, inglês e italiano. Ao longo da conversa, ela abordou temas como as ancestralidades, o mercado editorial, os recentes casos de censura a livros no Brasil e a literatura como instrumento de transformação social.

‘Livro sem nome’, de Paulo Henrique Passos: a linguagem como matéria-prima

Ainda que algumas obras chamem a atenção por conta de seus enredos mirabolantes, a matéria-prima da literatura continua a ser a linguagem. Essa constatação parece óbvia, mas construir um texto que se preocupa com cada palavra escolhida e que está disposto a fugir do lugar-comum no que diz respeito à narração não é tarefa fácil.

O escritor Paulo Henrique Passos certamente sabe isso muito bem, já que seu romance de estreia, “Livro sem nome”, é um ótimo exemplo de técnica, inovação e sensibilidade.

“Dueto dos Ausentes”: um mergulho no luto, nos desejos e na inibição

Romances de estreia como “Dueto dos Ausentes”, de Fernando Rinaldi, são acontecimentos raros. E essa afirmação não leva em conta apenas o fato de o autor já ter uma voz literária bem definida, mas se baseia, principalmente, em seu interesse em explorar a fundo o terreno da linguagem – sem jamais se esquecer da técnica.

O livro, recentemente publicado pela Reformatório, apresenta uma trama repleta de reviravoltas, personagens autênticos, metalinguagem e abordagens provocativas sobre questões existenciais.

Entre o aplauso e a repressão - Rascunho

Na Argentina de 1976, a atriz Graciela Jarcón, famosa por atuar em comédias, aceita o convite para interpretar Lady Macbeth na célebre peça de Shakespeare. Seu objetivo é provar à crítica especializada, ao público e a si mesma que tem capacidade para encarar papéis mais sérios. O desafio se torna ainda maior quando, no dia da estreia, em 23 de abril de 1977, ela se vê assombrada pelo medo paralisante do palco.

Marcelo Mirisola lança “Espeto Corrido”, romance que inaugura editora Velhos Bárbaros - São Paulo Review

*Por Bruno Inácio*

Autor de mais de 20 livros e considerado uma das principais revelações daliteratura brasileira dos anos 90, Marcelo Mirisola acaba de lançar Espeto Corrido,romance que inaugura a editora Velhos Bárbaros, montada pelo próprio escritor.A obra, à venda exclusivamente pelo Instagram do Sebo do Bactéria(@sebodobac), narra as aventuras amorosas e sexuais de um usuário compulsivo doTinder, um homem de 56 anos, também chamado Marcelo.

Duas obras literárias contemporâneas para pensar as relações de trabalho

Ambas as narrativas se tornaram clássicas e continuam com muito a dizer. Contudo, com as constantes mudanças nas relações de trabalho, obras contemporâneas também têm mergulhado no tema. Na literatura nacional, dois exemplos recentes são Afetos postiços, de Gabriele Rosa, e Os dias trabalhados, de Marcelo da Silva Antunes.

A escritora utiliza uma linguagem bastante poética e evidencia as complexidades do ofício, com um olhar atento e repleto de respeito e admiração. O livro ainda tem momentos d

A fúria e o recomeço: resenha de 'As viúvas passam bem'

No Recife dos anos 90, uma discussão descabida leva dois vizinhos a assassinarem um ao outro. A partir da tragédia, as esposas passam a nutrir uma relação de ódio e rivalidade com proporções gigantescas e rumos imprevisíveis. Esse é o ponto de partida de As viúvas passam bem, romance da pernambucana Marta Barbosa Stephens, publicado pela Folhas de Relva.

Em pouco tempo, as provocações se tornam mais agressivas, movidas pela raiva e pelo desejo de uma reparação impossível de ser alcançada. Mais

‘Na intimidade do silêncio’, o poético romance de estreia de Cintia Brasileiro

Recentemente, quem se aventurou por esse caminho com bastante originalidade e sensibilidade foi a escritora Cintia Brasileiro, que lançou Na Intimidade do Silêncio, romance publicado pela Aboio. Com capítulos curtos e uma linguagem tão poética quanto madura, a obra narra a história de Lia, uma professora que nasceu em Minas Gerais e vive em São Paulo.

A pureza que parece dar tom à narrativa no início, pouco a pouco ganha novas camadas e abre espaço para as complexidades da infância, período em

‘Usufruto de ruínas’, de Whisner Fraga, e as marcas da pandemia

Ao longo de quase 80 contos curtos, Usufruto de ruínas, novo livro do escritor e crítico literário Whisner Fraga, sintetiza de forma crítica e precisa a pandemia e seus efeitos. As narrativas transitam por diversas temáticas e estabelecem um relevante panorama sobre anos que foram marcados por perdas, desespero, conflitos e negligência.

Publicada pela Ofícios Terrestres Edições, a obra acompanha personagens em meio às mudanças abruptas impostas pela chegada do novo vírus. Agora, eles passam a lidar com o isolamento social, o constante desgaste nas relações, o desemprego, o medo e a violência.

A ficção se aventura pela psicanálise

Com o passar dos anos, os diálogos com a psicanálise se tornaram mais explícitos em diversas obras literárias. Um bom exemplo é “O complexo de Portnoy”, clássico do estadunidense Philip Roth publicado em 1969. No romance, o advogado Alexander Portnoy aborda, no divã, traumas ligados a questões como a infância repleta de superproteção materna, a adolescência resumida a constantes masturbações, o casamento desfeito e a impotência sexual.

Mais recentemente, a literatura brasileira voltou a se aten

Um tributo à leitura - Rascunho

A paixão por livros e literatura impulsiona há séculos o surgimento de obras que tratam desse tema, algumas, inclusive, escritas por autores célebres, como Virginia Woolf e Umberto Eco. No Brasil, um dos exemplos mais recentes é A biblioteca no fim do túnel – Um leitor em seu tempo, do jornalista especializado em literatura Rodrigo Casarin.

Há, por exemplo, discussões bem-humoradas sobre tópicos que acompanham leitores há tempos: devo ou não fazer anotações no meu exemplar?

“Caixa d’água”, de Febraro de Oliveira: delicadezas submersas

No dia 9 de fevereiro de 2022, o corpo de Matheus Cavalcante Cunha, um homossexual de 22 anos, foi encontrado numa caixa d’água em Itaituba, no sudeste do Pará. O jovem estava submerso e com roupas abaixo do joelho. A história percorreu o país e causou comoção, angústia e revolta, especialmente por não se tratar de um caso isolado. Naquele mesmo ano, 273 pessoas LGBTQIAP+ foram assassinadas no Brasil, de acordo com dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. No ano passado, foram 25

Do humor ao existencialismo: os 30 anos de carreira de Orlandeli

Chego à cafeteria às 14h56. Orlandeli me espera logo na entrada. Está sentado à mesa, atento ao cardápio. Após um aperto de mão, sugiro nos sentarmos no canto mais afastado. Temo que as conversas das mesas ao redor atrapalhem o bate-papo ou causem problemas no momento de ouvir e transcrever a entrevista.

Em 2024, Orlandeli completa 30 anos de carreira. Das tirinhas publicadas no Diário da Região até se tornar um dos principais nomes dos quadrinhos brasileiros, seu trabalho tem sido marcado por

Lilia Guerra: 'Para mim, música é literatura'

Com capítulos curtos e uma rara habilidade para construir cenas e elaborar diálogos verossímeis, Lilia Guerra, que também é auxiliar de enfermagem em São Paulo, constrói uma narrativa poderosa, com personagens e tramas que “vêm meter o pé na porta do cenário literário brasileiro”, como disse o escritor José Falero na quarta capa do livro.


A autora conhece muito bem espaços como Fim-do-Mundo, sabe o que é ficar horas no transporte público para chegar ao trabalho e, principalmente, acredita que

O caos como fonte de criação - Rascunho

Agora, ele prepara Antropofágico amor, livro de encerramento de uma trilogia que, segundo o próprio autor, vem da necessidade de fazer um balanço sobre sua vida. “Meu irmão, eu mesmo é um projeto que já tem 30 anos e parte exatamente do período em que houve a revelação, a descoberta da minha infecção por HIV e do câncer linfático do meu irmão. Mas o primeiro, Pai, pai, não estava nos meus planos e acabou sendo ele o responsável por deflagrar toda a trilogia”, conta.
• Em Meu irmão, eu mesmo, voc

"A Síndrome de Roach", de Fernando Cândido, e a subversão da realidade

Em determinando momento, por exemplo, interrompe as sessões de terapia com medo de ter suas ideias roubadas pelo analista. E por falar nisso, a psicanálise é um elemento bastante relevante no livro, com referências a conceitos freudianos e lacanianos – sem cair no didatismo ou na roupagem “cult” tão comum à literatura contemporânea.

Em meio à loucura crescente e à desesperança de seu personagem central, o romance é uma sutil e eficiente metáfora sobre temas que vão da alienação do trabalho ao e

“O céu para os bastardos”, de Lilia Guerra: as muitas vivências do Fim-do-Mundo

Apesar do trauma, Sá Narinha sabe muito bem que para os pobres não existe pausa para recuperação. Por isso, segue no trabalho indigesto como se nada tivesse acontecido. Tem como refúgio, por outro lado, o samba, as conversas com os vizinhos, a leitura e as anotações que faz em um caderninho, sonhando com o dia em que consiga publicar um livro.

Numa das muitas cenas emblemáticas da obra, inclusive, chega a expressar esse seu desejo a um renomado escritor para quem trabalhou por um período. A res
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